sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Carreiradas, muito além do esporte


Entre as décadas de 1950 e 1960, nas tardes de domingo em Chapecó os esportes mais atraentes eram o futebol e as carreiras. Milhares de aficionados do turfe se reuniam para torcer e apostar nos cavalos de corrida. Existiam duas hípicas, uma no bairro Santa Maria, hoje Esplanada, localizava-se a Hípica de Domingos Baldissera e a outra na Linha Água Amarela de propriedade de Ângelo Baldissera.

Conta Egydio Curtarelli, 79 anos de idade, ex-treinador de cavalos, comerciante no centro da cidade, quando veio de Xaxim em 1938 “aqui não tinha mais de 30 casas”. E foi no bairro Esplanada que se formou a primeira hípica da cidade. Pertencia ao seu sogro Domingos Baldissera. Lá ele treinava dois animais: a égua Lorena e o cavalo Bico Branco.













  Foto: Victorino Biázio Zolet
Hípica Chapecó

Havia muita discussão nos páreos, desde a acusação de chicotear a cara do cavalo do adversário durante a corrida, até a desconfiança que os animais estivessem dopados. Quanto ao assunto de “manobras” dos resultados, entre jockeys e proprietários, Curtarelli diz, “não existia a afamada ‘linguiça’ (conchavos de resultados durante os páreos)”.

Fomos ao encontro de um ex-jockey. Encontramos Eduardo Girardi, o Kiko. Hoje um bem sucedido comerciante de 68 anos de idade, nascido em Chapecó. Ao ser abordado sobre as carreiras, busca na memória e logo se lembra do seu pai, Martin Girardi, gaúcho vindo de Guaporé em 1930, para morar na cidade.

Kiko relata, “meu pai começou a gostar desse esporte aqui. Comprou um cavalo comum, de pelagem tordilha, mas era bom corredor. E nesse negócio veio um jockey. Por questão de excesso de peso do piloto, eu fui obrigado aprender a conduzir o animal”.

“Eu tinha 16 para 17 anos e pesava 37 quilos, hoje eu tenho a estatura de 1,72m. Na época o meu biótipo era o ideal para ser jockey. Fazia regime para manter um peso diferenciado do outros competidores”. Afirma o ex-atleta.

Havia muitos regulamentos na competição, exemplo: poderia ser 60 x nada: queria dizer, jockey com 60 quilos e o adversário com qualquer peso. Quem tivesse o menor peso, evidentemente teria vantagem. Outra modalidade, “peso a vontade”, valia qualquer peso do jockey.

Quando foi indagado se havia ou não “manobras” nos resultados das corridas, o ex-jockey somente sorriu. Afirma que seu pai não ganhou dinheiro nas carreiras, acha que até perdeu, mas valeu pelo prazer.

As últimas disputas de Kiko foram em 1963 no município de Xanxerê. Nesse tempo o seu pai possuía três cavalos de competição. Já adulto, se tornou motorista de caminhão e viajava para São Paulo. Quando podia marcava presença no principal hipódromo, o Cidade Jardim, na Capital. “Ficava olhando e achava muito bonito”. Lembra.

Nasce o Jockey Clube Chapecó

Com o passar do tempo, foi construído outra hípica, o local era propício, hoje aquele lugar somente deixa saudades para quem conhecia o ponto exato das disputas. A rua Rio de Janeiro  pouco relembra a antiga e perfeita cancha reta. Os primeiros que resolveram criar o novo espaço foram Coronel Lulu Moura, Pupi, Dalla Rosa e Domingos Baldissera.
O Clube foi mantido por pouco tempo por esse grupo, quando outra coligação liderada pelo Delegado Regional de Polícia Ulysses Longo, resolveu assumir o Jockey Clube Chapecó.


Conforme reportagem do jornal Folha D´Oeste de 1º. de julho de 1967, houve uma confraternização com a comunidade,  imprensa e diretoria, para mostrar as obras e os futuros projetos. Além do presidente Longo, outros membros da diretoria participaram do evento, entre eles Lindolfo Nicknich, Alberto Pasa, Luiz Baldissera, Aldory Alcântara, Ivo Fiorentin, Oscar Matte, Rodolfo Maurício Hirsch e Vinicius Tortatto.

Os assistentes e apostadores

“Os filhos, pela influência dos mais velhos sempre acompanhavam os pais aos encontros turfísticos”, conta Dornéles Dávi, nascido aqui em 1943. Com 17 anos de idade seguia os passos do pai, Eschermesseire Eutichiano Dávi, somente para observar as carreiras. O pai às vezes fazia uma “fezinha” e apostava no cavalo que achava favorito.

“Lembro bem quando meu pai repetia esta frase, ‘carreirada é um jogo’ ouvia-se muitos comentários que haviam ‘manobras’ nos resultados” explica Dornéles, e diz mais, “podia-se assistir muitas discussões sobre isso”.

Havia duas opções em Chapecó, assistir jogos de futebol no antigo Estádio Índio Condá, na rua Lauro Müller entre as ruas índio Condá e Borges de Medeiros, no bairro Santa Maria, ou, acompanhar as carreiradas no Pinheirinho, como chamavam, recorda Dornéles.

Outra opção turfistica

Bem longe do centro da cidade, exatamente na Linha Água Amarela, outro apaixonado pelo turfe, Ângelo Baldissera, já na década de 1950, mantinha carreiras em sua propriedade. Valmir Baldissera, filho de Ângelo, com 14 anos de idade já montava em competições pela região.

Valmir confidencia que depois de se “aposentar” como  jockey e jogador de futebol, o negócio hoje é ser proprietário de cavalos.  Há 15 anos iniciou a atividade com cavalos de linhagem mais apurada. Possui cinco cavalos filhos de reprodutores ingleses, resultado de cruzas com garanhões campeões. “Meus cavalos são os mesmos que correm nos mais seletos hipódromos do país, um exemplo, Tarumã de Curitiba”. Valmir diz convicto que seus animais são de qualidade.



 Foto: Victorino Biázio Zolet
Cancha reta da Hípica Chapecó até o final dos anos sessenta

Hoje ele participa em quase todos os concursos em hipódromos dos três Estados do Sul, porque há uma necessidade de ganhar bons prêmios, as despesas são muito elevadas. “Participo de Prêmios onde é pago de 700 mil a um milhão de reais” explica Valmir, para referenciar o que se gasta para manter esses cavalos de corrida.

Existe uma estrutura para se obter bons resultados. O treinador Adroaldo Cardoso é pai do jockey Dionatan de 13 anos, ele pesa 50 quilos, “ e já está em fim de carreira” se diverte Valmir, ao dizer que o adolescente está muito pesado para ser um piloto de cavalos.

Qual a diferença das corridas de hoje com as do passado? Valmir compara por dois ângulos “antigamente era feito muita ‘lingüiça’ naquela fórmula de competição e existem até hoje nas competições menos importantes. Mas naquelas que há regulamentos, registros e regras definidas, são competições muito sérias”, exemplifica Valmir. 

Um comentário:

  1. Alguém se lembra do jóquei João Trindade Ferreira Bueno. Eu acho que naquela época ele já morava no Paraná. Tenho vagas recordações dele falando que corria no Pinheirinho, mas eu não tinha noção de que lugar se tratava. Zenair Ferreira Bueno.

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