quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O suado caminho da madeira


O registro das longas amarrações de madeira sobre o Rio Uruguai faz parte da lembrança dos ribeirinhos que viveram na região até a década de 1940. Até então, a extração da madeira era a principal atividade econômica dessa região que era coberta por matos.
O trabalho madeireiro, com a atuação das serrarias, destacou-se entre as atividades industriais do Distrito de Chapecó.
De acordo com Monica Hass, “as Companhias Colonizadoras primeiro exploravam a madeira para depois vender as terras aos colonos. Também não é segredo para ninguém que o contrabando da madeira corria solto na região”. (HASS, pág. 46)
Para a confecção da balsa, inicialmente era feito o corte das árvores que eram levadas para as serrarias e fracionadas em tábuas, com o posterior transporte até o porto fluvial. Lá eram construídas as embarcações e escoadas as madeiras para a comercialização nos portos Argentinos.
Cada balsa era composta por 10, 20 ou até 30 cartéis, que poderia chegar até 200 metros de comprimento. Para isso a exportação da madeira de lei era feita em vigas ou toras, enquanto a de pinho era serrada em tábuas ou pranchões.
O transporte fluvial continha doses de aventura e ousadia. No momento em que o rio atingia o ‘ponto de balsa’ um grande número de jangadas desfilavam sobre as águas do Uruguai. Guiadas por um grupo de 8 a 15 pilotos munidos de remos e varejões, que desviavam a embarcação de rochedos e outros obstáculos.




                                                                                                              Foto: Victorino Biázio Zolet 
A imponência da balsa de pranchas prontas, que aguarda o ponto ideal da próxima enchente do Rio Uruguai, para ser levada até à Argentina

A duração da viagem era de cinco a oito dias. O ponto mais crítico da viagem estava no Salto Yucumã, (o maior salto longitudinal do mundo) que separava a vislumbrante cascata. Bonita de ser ver, difícil de atravessar. Os balseiros concentravam toda atenção nas manobras. Passado o obstáculo, adiante o caminho era menos perigoso.
Muitas embarcações acabavam a viagem ali mesmo no Yucumã, devido às forças do impacto que atingiam a parte frontal ou traseira da balsa.
Os balseiros se precaviam dos “caladores de vigas”, nome dado às pessoas de má fé, que eram olheiros das embarcações. Se por um motivo ou outro a balsa quebrasse, eles num ato de desonestidade escondiam a madeira para construir sua própria balsa sem o trabalho da retirada das árvores.
Ao atracar em solo argentino, São Tomé ou Libres, os balseiros brasileiros já tinham mercado certo para seus produtos. A madeira brasileira era bem recebida pelos hermanos. Há relatos que, conforme a quantidade da madeira, o balseiro retornava com caixas recheadas de dólares.
Para voltar para casa, os aventureiros seguiam até Uruguaiana. De lá descansavam sobre os assentos do trem até a cidade de Erechim, estado do Rio Grande do Sul. Alguns exportadores faziam ali mesmo o investimento, voltavam para Chapecó de posse de novos caminhões para continuar o trabalho.
         Sem as balsas no Rio Uruguai, desaparece também a imagem do caboclo destemido que enfrentava o risco de morte como uma simples peripécia. O sujeito com ares de destemor não existe mais, o que ficam agora são as histórias dos aventureiros do Rio Uruguai.
Fonte:
Haas, Mônica. O linchamento que muitos querem esquecer. Chapecó/SC. Argos

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