O
registro das longas amarrações de madeira sobre o Rio Uruguai faz parte da lembrança dos
ribeirinhos que viveram na região até a década de 1940. Até
então, a extração da madeira
era a principal atividade econômica dessa região que era coberta
por matos.
O trabalho
madeireiro, com a atuação das serrarias, destacou-se entre as
atividades industriais do Distrito de Chapecó.
De acordo com Monica
Hass, “as Companhias Colonizadoras primeiro exploravam a madeira
para depois vender as terras aos colonos. Também não é segredo
para ninguém que o contrabando da madeira corria solto na região”.
(HASS, pág. 46)
Para
a confecção da balsa,
inicialmente era feito o corte das árvores que eram levadas para as
serrarias e fracionadas em tábuas, com o posterior transporte até o
porto fluvial. Lá eram construídas as embarcações e escoadas as
madeiras para a comercialização nos portos Argentinos.
Cada balsa era
composta por 10, 20 ou até 30 cartéis, que poderia chegar até 200
metros de comprimento. Para isso a exportação da madeira de lei era
feita em vigas ou toras, enquanto a de pinho era serrada em tábuas
ou pranchões.
O transporte fluvial
continha doses de aventura e ousadia. No momento em que o rio atingia
o ‘ponto de balsa’ um grande número de jangadas desfilavam sobre
as águas do Uruguai. Guiadas por um grupo de 8 a 15 pilotos munidos
de remos e varejões, que desviavam a embarcação de rochedos e
outros obstáculos.
Foto: Victorino Biázio Zolet
A imponência da balsa de pranchas prontas, que aguarda o ponto ideal da próxima enchente do Rio Uruguai, para ser levada até à Argentina
A duração da viagem era de cinco a oito dias. O ponto mais crítico da viagem estava no Salto Yucumã, (o maior salto longitudinal do mundo) que separava a vislumbrante cascata. Bonita de ser ver, difícil de atravessar. Os balseiros concentravam toda atenção nas manobras. Passado o obstáculo, adiante o caminho era menos perigoso.
Muitas
embarcações acabavam a viagem ali mesmo no Yucumã,
devido às forças do impacto que atingiam a parte frontal ou
traseira da balsa.
Os balseiros se
precaviam dos “caladores de vigas”, nome dado às pessoas de má
fé, que eram olheiros das embarcações. Se por um motivo ou outro a
balsa quebrasse, eles num ato de desonestidade escondiam a madeira
para construir sua própria balsa sem o trabalho da retirada das
árvores.
Ao
atracar em solo argentino, São Tomé
ou Libres,
os balseiros brasileiros já tinham mercado certo para seus produtos.
A madeira brasileira era bem recebida pelos hermanos.
Há relatos que, conforme a quantidade da madeira, o balseiro
retornava com caixas recheadas de dólares.
Para voltar para
casa, os aventureiros seguiam até Uruguaiana. De lá descansavam
sobre os assentos do trem até a cidade de Erechim, estado do Rio
Grande do Sul. Alguns exportadores faziam ali mesmo o investimento,
voltavam para Chapecó de posse de novos caminhões para continuar o
trabalho.
Sem as balsas no Rio
Uruguai, desaparece também a imagem do caboclo destemido que
enfrentava o risco de morte como uma simples peripécia. O sujeito
com ares de destemor não existe mais, o que ficam agora são as
histórias dos aventureiros do Rio Uruguai.
Fonte:
Haas, Mônica. O linchamento que muitos querem esquecer. Chapecó/SC. Argos
Haas, Mônica. O linchamento que muitos querem esquecer. Chapecó/SC. Argos
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